Copa do Mundo: Como é a atuação do fisioterapeuta esportivo no futebol?

O clima de Copa do Mundo já invadiu todos os continentes. Em novembro de 2022, todos os olhares estão voltados para a competição que une diferentes pessoas pela paixão por futebol. Nesse período, além dos jogadores e o evento em si, outras áreas também são evidenciadas, como, por exemplo, a Fisioterapia Esportiva.

Por isso, entrevistamos o fisioterapeuta Felipe Coimbra Meira, que atua no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, para entender a atuação do profissional da Fisioterapia no futebol e em competições de tiro curto, como a Copa do Mundo do Catar.

Felipe Meira é formado em Fisioterapia há 13 anos. Trabalhou no Cazaquistão por 6 anos, sendo 2 anos na seleção nacional de futsal e 4 anos na equipe de futebol de campo. Atualmente, integra o quadro de fisioterapeutas do Grêmio junto com outros 3 colegas da área.

Entrevistado Felipe Meira, fisioterapeuta do Grêmio, fala sobre atuação do fisioterapeuta esportivo na Copa do Mundo.
Fisioterapeuta Felipe Coimbra Meira acompanhando o treinamento dos jogadores da equipe do Grêmio. (Foto: Renan Jardim)

Além disso, Meira é professor de Fisioterapia no Futebol, na CBF Academy e palestra nacional e internacionalmente, sobre o tema “Inteligência Artificial Machine Learning”.

Experiência e histórias não faltam para esse profissional! Continue acompanhando a entrevista e conheça um pouco mais sobre a atuação do Fisioterapeuta Esportivo em competições de futebol.

Qual é o trabalho do fisioterapeuta esportivo?

O trabalho do fisioterapeuta esportivo é focado, principalmente, na prevenção de lesões, recuperação e reabilitação dos atletas. Todas as intervenções realizadas pelo profissional da Fisioterapia, visam evitar com que o atleta sofra algum tipo de lesão que impeça uma boa atuação nos exercícios que praticar.

No Grêmio, Felipe relata que o foco dos fisioterapeutas é atuar diretamente no trabalho de prevenção de lesão, junto com a preparação física e a fisiologia.

“Fazemos parte também das reuniões e os debates sobre outras áreas como, por exemplo, controle de carga. Além disso, atuamos dentro do setor, com planejamento de processos dentro da reabilitação, para que tenha uma padronização institucional independente do profissional que ali esteja”, comenta Meira.

Conforme a área do profissional da Fisioterapia, a atuação também sofrerá algumas mudanças. Por exemplo, tanto no relato de Felipe Meira que trabalha em um time de futebol, como na entrevista para um artigo anterior do Blog SouFisio com o ex-fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino, Alexandre Urso, as intervenções tinham planos de ação individuais, mas que também consideravam o desempenho da equipe como um todo.

O que será diferente de um fisioterapeuta que trabalha com atletas skatistas, ginastas olímpicos, ou outros esportes individuais. Dessa forma, cada profissional se especializa conforme as características de categoria em que trabalha.

Conforme o conteúdo publicado no blog Guia da Carreira, atletas do vôlei e futebol, frequentemente sofrem lesões no joelho. No basquete, os atletas lesionam os tornozelos, e no tênis, surgem problemas nas costas e nos quadris. Além disso, as lesões mais comuns dos atletas são: fraturas, luxações, entorses, distensões, cãibras e tendinites.

Mas, quando o assunto é futebol, a realidade dentro dos clubes brasileiros também pode variar dependendo da visão do treinador.

“Tem muito essa questão contextual que facilita ou até dificulta o nosso trabalho. Por exemplo, quando a gente pega treinadores que são ex-jogadores e durante a carreira, eles tiveram uma melhora na performance, uma diminuição das lesões, viram um trabalho efetivo da Fisioterapia, eles dão muito mais importância ao fisioterapeuta“, relata Meira.

Isso também reflete na evolução pela qual a área está passando e os espaços que estão sendo conquistados. De acordo com Felipe Meira, em 2009, quando ele se formou, os clubes da série A no Brasil costumavam trabalhar com 2 fisioterapeutas, no máximo.

Hoje, os times contam com 4 ou 5 fisioterapeutas esportivos atuando na equipe. Com o aumento da demanda, consequentemente, aumentou a importância dos profissionais de Fisioterapia no tratamento e recuperação de lesões dos jogadores.

O que antes era considerado um gasto, hoje, é investimento para a maioria dos clubes. Uma vez que menos jogadores se lesionam, menor é gasto com a recuperação e/ou novas contratações para substituir aqueles que estão fora das partidas.

Fisioterapeuta Felipe acompanhando jogador Leonardo Gomes.
Felipe Meira acompanhando o jogador Leonardo Gomes no retorno aos treinamentos, após rompimento do ligamento cruzado posterior do joelho direito. (Foto: Lucas Uebel)

“Às vezes a gente tem recursos imediatistas, como por exemplo o Conceito Mulligan, de Terapias Manuais, em que o jogador chega com um quadro álgico que impossibilita ele de treinar e com um tratamento ele consegue ter uma redução do quadro álgico tão grotesca, que ele consegue desempenhar bem naquele dia de treinamento ou naquele dia de jogo”, comenta Felipe Meira.

De acordo com o artigo do Portal Secad Artmed, o Conceito Mulligan envolve o reposicionamento articular enquanto o paciente realiza simultaneamente o movimento sintomático. Se o reposicionamento for efetivo, o movimento sintomático torna-se assintomático.

Assim, percebemos que além da especialização em Fisioterapia Esportiva, cada área também possui traços específicos que devem ser estudados. Por isso, manter-se atualizado e em busca de conhecimento, é importante para conduzir adequadamente o tratamento dos pacientes.

Como a Fisioterapia entra em campo na Copa do Mundo?

Antes do técnico Tite divulgar a lista oficial de jogadores brasileiros convocados para a Copa no Mundo 2022, o atacante Richarlison preocupou os torcedores, após uma lesão na panturrilha em um jogo do Tottenham.

Após a saída de campo, o jogador contou com o acompanhamento de médicos do clube e um fisioterapeuta particular, para iniciar um tratamento com três sessões diárias. Dessa forma, pôde se recuperar da lesão e não foi cortado da lista de Tite (divulgada oficialmente no dia 07 de novembro).

A Copa do Mundo, uma competição de tiro curto, exige que os fisioterapeutas trabalhem com uma dinâmica diferente. Ao invés de preservar o atleta de uma certa etapa do campeonato, para que ele atue melhor futuramente, a Copa possui uma janela de jogos muito menor, o que inviabiliza essa estratégia.

Assim, o fisioterapeuta esportivo trabalha para controlar e preparar o atleta, para que ele esteja pronto para todas as partidas que for escalado. “Tem essa diferença em um clube, onde você tem 11 meses de competição e uma seleção, onde você tem um mês de competição e jogos um atrás do outro”, reitera Meira.

Ao término de cada jogo no Catar, os fisioterapeutas das seleções estarão focados na recuperação (Recovery), para que junto com o trabalho de preparadores físicos, o atleta possa desempenhar bem no próximo jogo.

Felipe Meira também comenta como costuma funcionar a comunicação das seleções com os clubes em que os atletas estão e utiliza o exemplo do jogador do Brasil.

“O Richarlison teve uma lesão no músculo gastrocnêmio (na panturrilha esquerda), se pensava que era uma lesão séria e grave, que teria um prognóstico de 2 meses e ele estaria fora da Copa do Mundo. Mas, os médicos fizeram os exames e viram que era uma lesão baixa, de grau I, então isso não tiraria ele da Copa e ele foi convocado”, informa o Fisioterapeuta Esportivo.

A relação do departamento de saúde das seleções com os clubes, reitera a importância da opinião dos profissionais sobre as condições físicas dos jogadores. Dessa maneira, antes da lista oficial de convocados, os técnicos conseguem visualizar o histórico de lesões de cada atleta e fazer as melhores escolhas para a disputa.

O acompanhamento diário possibilita ver em tempo real as alterações de comportamento padrão do atleta. “Hoje, a gente tem questionários, avaliações bioquímicas, coisas que quando comecei na fisioterapia esportiva não tinha acesso as informações, não tinha acesso à tecnologia que hoje a gente encontra na maioria dos clubes”, comenta o fisioterapeuta do Grêmio, Felipe Meira.

Felipe Meira avaliando jogador Rafinha. Exemplo de avaliações feitas para jogadores convocados na Copa do Mundo
Fisioterapeuta Felipe Meira avaliando o jogador Rafinha, quando chegou no Grêmio, em março de 2021. (Foto: Lucas Uebel)

A partir do momento que esses dados são coletados e armazenados, fica mais fácil demonstrar a situação do jogador aos técnicos, para casos como uma Copa do Mundo.

Além de servir como um monitoramento constante para melhorar o trabalho desempenhado pelo fisioterapeuta esportivo, a informação armazenada em meios tecnológicos otimiza a entrega e visualização de relatórios gerenciais, de avaliações e evoluções dos pacientes.

Qual a posição do fisioterapeuta durante o jogo?

Verificar os sintomas que estão sendo apresentados pelo atleta, possíveis disfunções, lesões, cansaço ou fadiga, é a rotina com a qual o fisioterapeuta esportivo se depara ao longo da competição.

Esse constante monitoramento é focado em reduzir os quadros álgicos do jogador e fazer com que ele esteja recuperado ao máximo para os jogos que virão, afirma Felipe Meira.

Mas, além disso, em uma Copa do Mundo, ter o apoio de uma equipe interdisciplinar faz toda a diferença. Dessa forma, é possível auxiliar o atleta para que ele mantenha uma alimentação equilibrada, um sono de qualidade e mantenha o psicológico focado na competição.

Já durante os jogos, o fisioterapeuta esportivo precisa conhecer cada atleta e o histórico de lesões deles. Isso irá auxiliar na tomada de decisão quando é necessário retirar algum jogador de campo, no caso de relatar alguma fisgada ou pontada.

Conhecendo o histórico de lesão dele, a gente consegue ter um insight se é o momento de retirar esse atleta de campo pra preservar a integridade física dele ou não, ou se é uma questão só de controlar ali para saber se esse atleta pode continuar em campo ou não”, conclui o fisioterapeuta Felipe.

Saber o momento de retirar um jogador de campo é uma decisão conjunta que considera a opinião do atleta, do técnico e do departamento médico. Mas, cabe aos médicos a última palavra para manter a saúde do jogador em primeiro lugar.

Felipe Meira comenta sobre um estudo científico que fala das estratégias de return to play (retorno ao jogo), na visão do fisioterapeuta, do treinador e do atleta. Como ele reitera, o jogador é condicionado a sempre querer estar jogando e treinando, principalmente, atletas de alto nível.

Por isso, é importante o fisioterapeuta entender o cenário e ter uma decisão firme quando chega o momento de retirar um atleta de campo.

“Acontece muito de pedir a substituição do atleta junto com o médico e o atleta falar ‘não, vou continuar’. Só que a gente também precisa conhecer esse perfil do atleta. Se é um atleta jovem, que não está acostumado com as lesões. Porque um atleta que não está acostumado com as lesões, ele não entende às vezes o que ele está sentindo e que aquela lesão pode se agravar”, conclui Meira.


Agora, é o momento de ficar atento a tabela de jogos e o horário dos jogos do Brasil, para torcermos juntos pelos jogadores em campo e o time do departamento médico da Seleção Brasileira que foi convocado.

Sabemos da importante atuação que um fisioterapeuta esportivo possui em uma competição como a Copa do Mundo. Apesar desses profissionais não ganharem muitos holofotes e não marcarem gols, a valorização da categoria e a evolução constante já é uma grande vitória para a Fisioterapia.

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